O governo da Inglaterra revogou todas as licenças de exportação de armas para a Líbia depois da onda de violência desencadeada pela repressão promovida po ditador Muammar Gaddafi contra os protestos da população. A revisão "imediata" e "rápida" de licenças de exportação foi anunciada pelo primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron.
Ao anunciar a decisão, David Cameron condenou a resposta "vicida" dada pelo governo de Gaddafi aos protestos na Líbia, com mais de 800 mortos já confirmados. Em visita ao Kwuait, Cameron admitiu que o Reino Unido errou ao apoiar "regimes altamente controladores" no Oriente Médio e no Norte da África, como forma de garantir estabilidade. O primeiro-ministro britânico considera que houve preconceito ao não se acreditar que os muçulmanos são capazes de gerir uma democracia.
William Hague, o secretário de negócios estrangeiros britânico, deu suporte aos comentários do primeiro-ministro, informando que o embaixador inglês na Líbia fora chamado de volta a Londres. "Já expressamos a nossa absoluta contrariedade com o uso de força letal contra manifestantes", declarou Hague.
A decisão de suspensão de venda de armas inclui também a revogação de 24 licenças individuais e 20 licenças outras licenças concedidas à região do Oriente Médio.
Alistair Burt, encarregado de negócios britânico para assuntos ligados ao Oriente Médio e norte a África, disse que todas as aplicações de licença de exportação são submetidas a investigação sobre abusos de direitos humanos. Diante dos últimos acontecimentos, uma revisão mais ampla de licenças de exportação para a região, que pode incluir restrições ao o Iêmen, é esperada.
"A posição britânica há muito tempo está clara", explicou Burt. "Nós não emitiremos licenças para países ou regiões onde nós julgamos que há um risco claro que a exportação proposta pode provocar ou prolongar conflitos regionais ou internos, ou ainda que as armas poderiam ser utilizadas na repressão interna a manifestantes ou opositores políticos."
Como a violência aumentou na região, Cameron condenou a resposta do regime de líbio aos manifestantes. Anteriormente, o primeiro-ministro voou para o Cairo como parte de uma excursão planejada às pressas pelo Oriente Médio para observar de perto os "interesses ingleses".
"O que está acontecendo na Líbia é inaceitável, principalmente a forma como o regime está reprimindo manifestantes, que pdem mais abertura do país, hoje um dos mais fechados do mundo", afirma Cameron.
Hague foi a Bruxelas para conversas com ministros do exterior da Comunidade Européia e constatou que a credibilidade do governo de líbio "já está arruinada", diante de seu fracasso para lidar com os protestos da população.
Ele também sugeriu a seus colegas europeus um compromisso para o diálogo, além de busca de soluções para a reforma política e econômica, acesso ao país dos observadores internacionais de direitos humanos, a liberdade para o segmento de internet e imprensa, e o fim da intimidação e detenção de jornalistas.
Eni suspende o fornecimento de gás líbio
A empresa italiana Eni anunciou a suspensão do fornecimento de gás líbio através do gasoduto Greenstream, que abastece a Itália, em consequência da violência no país, com os manifestantes a exigir o fim do regime de Muammar Kadhafi.
"A suspensão temporária da produção de gás natural na Líbia levou à pralisação do gasoduto Greenstream ", informou a empresa em comunicado à bolsa italiana.
A empresa garante que, apesar da interrupção, conseguirá atender ao mercado. Antes, a Eni tinha informado que poderia suspender parte das operações de exploração de petróleo e gás no país devido à escalada de violência.
O gasoduto Greenstream, com 540 quilómetros, liga Mellitah, na Líbia, a Gela, na ilha italiana da Sicília. O gasoduto submarino foi inaugurado em 2004 pelo primeiro ministro italiano, Silvio Berlusconi, e pelo líder líbio, Muammar Kadhafi.
A Eni, que explora recursos energéticos líbios ao longo dos 41 anos que Kadhafi está no poder, é, segundo os analistas, a empresa estrangeira que mais tem a perder caso a violência continue a aumentar e o regime entre em colapso.